domingo, 20 de julho de 2008

Caio do céu

Caio saiu de casa drogado e com vontade de subversão. Foi pro mundo tentar se achar, mas se perdeu em cada esquina que passava com seu carro a 120 km/h. Apesar de inteligente e saradão, se sentia muito sozinho nessa tentativa de amadurecimento tardio. Tentativa mesmo, porque ele já havia passado do momento há muito tempo. Há um tempão, na verdade, mas, como nunca é tarde para nada, ele escolheu e queria amadurecer naquele exato momento.

Caio pegou seu carro tunado, tomou red bull com rum e pisou fundo. O cara era valente e tem que ser valente mesmo para amadurecer nesse mundo de infância em que ele se perdeu.

O Caio pertencia a um mundo de fantasia, tipo aquele mundo do Peter Pan, só faltava voar. Ele não tinha compromissos. Não possuía nenhuma obrigação, nem com ele nem com ninguém, e se achava um bobão por não precisar cuidar de ninguém. Dele, todos já cuidavam, esse não era o problema, o que faltava mesmo era obrigação, amadurecimento, mesmo que tardio.

Então, o Caio pegou seu carro tunado, tomou red bull e pisou mais fundo ainda. O motor roncava alto e ele já não enxergava a divisão da pista. Até que percebeu que vinham uns faróis altos em sua direção. É, o lado dele deve ser o outro. Por sorte e por habilidade, ele conseguiu voltar para a sua pista, mas aquele amassado no carro vai sair caro.

O carro do Caio derrapou por várias esquinas e feriu alguns passantes. Ele culpou as ruas esburacas e os motoristas distraídos e disse ao policial que só tinha comido um bombom de licor. Tem um poste aqui na rua que está meio torto... dizem que foi ele. Não sei.

Caio descobriu que encarar a vida adulta, os problemas familiares e profissionais, e sei lá mais o que é muito chato, é chato pra caramba. É necessário muita coragem para assumir certas coisas, principalmente seus desejos e fraquezas. Só que para se tornar aquela pessoa que a mãe dele acha que deve ser, Caio precisa de muito mais do que coragem. Talvez, paciência... Talvez, fé... Ou talvez porra nenhuma, talvez ele só tenha que viver e não se questionar.

Ontem, quando fui visitá-lo, percebi que estava um pouco melhor, seu rosto estava um pouco menos inchado e aquela cicatriz horrorosa tava um pouco melhor também. Mas ninguém sabe, nem ele mesmo, se vai conseguir esquecer o tal dia, daquele dia lá looonge, há um tempão...

A batida fez com que ele colocasse os pés no chão de vez. Ele não caiu, despencou de um céu ensolarado. Sonhos, idéias, desejos e talvez a infância tenham ficado pelo caminho. Ele não sabe até que ponto aquilo afetou seu atos, suas dores e sua vontade de subversão. A única coisa que sabe é que as coisas devem ser diferentes. Nem que o tapa tenha que sair mais forte, nem que o grito tenha que sair mais alto.

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