segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Silvinha me disse

Certo dia, Silvinha me disse que queria ir embora, que fazia planos e suas malas já estavam prontas. Ela não sabe como meu coração doeu naquele dia. Eu pensava que ela ia embora já, no dia seguinte. Mas os planos de Silvinha eram de longo prazo. Roupas, dinheiro, passagem. Ela já tinha tudo pronto para ir no prazo de, no máximo, dois anos. Para mim, ela estava ficando louca. Como assim? Nunca se sabe o que pode acontecer em um dia, muito menos em dois anos.

Silvinha sempre teve essa vontade de ir. O importante era sempre "ir". O verbo "ficar" para ela não existia. Se aparecia um problema, ela logo pensava: "se eu pudesse, ia embora agora". É, não era só "ir". Era "ir embora". Silvinha sempre quis ir embora. Olhava para todos com aquele olhar de "um dia vocês sentirão minha falta". E, sabendo que um dia iria embora, tentava aproveitar o tempo que tinha aqui.

No dia em que Silvinha me disse que um dia iria embora, eu percebi que ela nunca esteve aqui de verdade. Seus pensamentos sempre estiveram em outro lugar, viajando pelo mundo, se perdendo nas esquinas e dispensando atalhos. Procurando a liberdade que o "ficar" é incapaz de dar.

Silvinha me disse que sonha desde criança com essa liberdade. E que agora que ela está próxima e mais real do que nunca, não quer brigas, discussões, divergências, intrigas. Não se preocupa com nada mais, pois sabe que a possibilidade do “nunca mais” é capaz de resolver – ou maquiar - qualquer problema.



"E eu irei em qualquer direção
E voltarei, sou meu guia

Parto com a lua derramada no espelho do mar
Cartas de um futuro, tenho o mundo pra se revelar
Era o outro lado do sol, e um perfume de fruta e de flor
Roda, minha vida, nas trapaças do Criador

E eu irei...

Quando o sol vem brilhar
E um resto de estrela da noite clareia a manhã
Terra e sol, vento e mar
O segredo que eu trago guardado no meu talismã..."

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