segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Silvinha num belo dia resolveu se matar

Silvinha num belo dia resolveu se matar. Não, não é brincadeira, não. Ela, realmente, resolveu se matar... Bom, pra ela, ela não morreria não, mas morreria pros outros. E o plano já estava feito. Todos estariam dormindo, ela estaria no seu quarto, trancada. Então, tiraria de sua bolsa o tal veneno - sabe, aquele veneno que o padre a aconselhou a tomar. Depois, sem nenhuma dor, perderia seus sentidos. Primeiro, o paladar e a audição, depois o olfato e a visão e, por fim, o tato. Cairia dura no chão. Não, no chão não. Na cama. Ela tomaria o tal veneno perto da cama para que quando acordasse não encontrasse hematomas.

Já até sabia o que ia colocar no recadinho de despedida – uma folha de caderno largada ao lado da cama -, diria:

Sim, me matei. Me matei mesmo. E sabendo que tava me matando. Mas não pensem que foi por covardia ou medo. Pelo contrário, fui valente durante muito tempo. E até pra se matar é preciso ter coragem. Acontece é que cansei. Bateu tédio, preguiça de continuar, sabe. Ou melhor, faltou motivação. Pô, se é difícil trabalhar sem algo que te motive, imagine viver. Não tentem amenizar a dor me culpando. Vocês sabem que a culpa é de vocês. É, sim! De vocês e desse mundo besta que construíram. Primeiro, inventaram um Deus e um messias – que, aliás, pregavam coisas totalmente impraticáveis. Ou vão tentar me convencer que esse negócio de “amar o próximo como a si mesmo”, viver de caridade e se sacrificar pelos outros existe? Junto com essa história veio aquele negócio de amizade, companheirismo, família, amor, respeito, paz mundial, etc. Convenhamos, família existe, pois alguém tem que nos botar no mundo. Mas o restante é muita baboseira. Coisa de filme. Mas, enfim, esse papo tá muito chato e eu já morri mesmo, não vou ficar perdendo meu tempo aqui. Se alguém perguntar por que me matei, podem dizer: por causa desse mundo besta, cheio de covardes e impostores. É, eu resolvi procurar outro lugar pra viver. Não consigo conviver com mentira. Saio da vida para, graças a Deus, não entrar na história. Eu que não quero fazer parte dessa sujeira. Vou procurar uma causa maior que um bando de seres que pensam que pensam. E pior, ainda espalham isso pra todo mundo. Vendem uma imagem que não existe. Esse mundo é mesmo uma farsa.

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