segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Silvinha

Porque excessivamente grave é a vida. Excessiva e grave.
Não me pergunte o porquê.

Silvinha ainda estava acordada. Em pé, diante da janela, parecia esperar alguém. Mas não estava. Leu um livro - meio chato ou hermético demais - e, logo que acabou a leitura, o jogou longe. Plaft! O livro bateu na parede e caiu no chão. Então, levantou-se e foi à janela olhar o movimento da rua, fingir que esperava alguém, passar o tempo. De braços cruzados olhava para o nada - já era madrugada, não havia ninguém na rua, nada que pudesse chamar sua atenção. Era tudo pura encenação. Na verdade, até a insônia era pura encenação. Ela encenava, fazia graça, para si mesma. Ficou em pé em frente à janela a madrugada inteira. Até que cansou e resolveu ouvir uma música.

"Mary wants to be a superwoman
But is that really in her head
But I just want to live each day to love her
for what she is

Mary wants to be another movie star
But is that really in her mind
And all the things she wants to be
She needs to leave behind

But, very well, I believe I know you-very well
Wish that you knew me too-very well
And I think I can deal with everything going through
your head

Very well, and I think I can face-very well
Wish that you knew me too-very well
And I think I can cope with everything going through
your head..."

Silvinha se deitou pra ouvir a música. Acabou dormindo. Sonhou sonhos loucos com pessoas desconhecidas. E acordou no dia seguinte como se nada tivesse acontecido. Ou melhor, como se tudo tivesse acontecido. Silvinha acordou num lugar desconhecido. Perdeu a memória. Não sabia o seu nome, sua idade, onde morava, se tinha família e cachorro. Achava que tinha um cachorro. Mas não tinha. Silvinha foi abduzida. Foi escolhida no meio de toda a humanidade para viver junto dos extraterrestres, que estudavam o comportamento humano no convívio social. Os ETs queriam saber como seria o convívio de um humano com os seres de sua espécie. E ainda diziam que ela nunca sentiria falta da Terra e dos humanos, pois o mundo deles é muito melhor e, afinal, ela não se lembrava de nada, então do que poderia sentir falta?

Silvinha não imaginava, mas viraria a sensação dos ETs - em terra de cego quem enxerga é rei, ou algo parecido. Virou celebridade, popstar, todos queriam vê-la e tocá-la. Estrelou algo que se assemelha aos filmes daqui. Saiu nas capas de algo que se assemelha às revistas daqui. E foi perseguida por ets que se assemelham aos paparazzes daqui. Silvinha virou diva. E, mais tarde, se casou com o ET mais cobiçado da galáxia.

Na Terra... Diziam que havia se apaixonado e fugido com vizinho colombiano... A verdade é que não fez muita falta...

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